quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Feliz 2015!

Hoje, último dia do ano de 2014 darei uma pausa e retornarei no ano quem vem, 2015. 

Desejo a todos os novos leitores um excelente Ano Novo e ótimas festas de Réveillon (do francês, acordar).


Muitos beijos e abraços!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O homem da favela

(Manuel Lobato)

Dr. Levi dá plantão no Hospital dos Operários que fica perto de uma favela. Ele é meio conhecido na favela porque sobe o morro de vez em quando, em visita médica à Associação dos Deficientes Visuais. Mesmo assim, já foi assaltado nove vezes, sempre de manhã, quando está saindo do pátio em seu carro. Por causa disso, Dr. Levi anda prevenido. Não compra revólver mas, ao deixar o plantão, já vem com a chave do automóvel na mão, passos rápidos, abre a porta, entra depressa, liga o motor, engrena a marcha, acelera e dispara. Não se preocupa com os malandros que tentam abordá-lo na estrada.

A neblina prejudica a visão do médico nessa manhã de inverno. Ele aperta o dispositivo de água, liga o limpador que faz o semicírculo com seu rastro no pára-brisa. Vê no meio da estrada, ainda distante, um pedestre que finge embriaguez. O marginal está um tanto desnorteado, meio aéreo, andando sem rumo, em ziguezague. Parece trazer um porrete na mão.

Dr. Levi será obrigado a diminuir a aceleração e a reduzir a marcha. Se o mau elemento continuar na pista, terá de frear. Se parar, poderá ser assaltado pela décima vez. O carro se aproxima do malandro. Ele usa boné com o bico puxado para frente, cobrindo-lhe a testa. Óculos escuros para disfarce, ensaia os cambaleios, tomba um pouco a cabeça, olha para cima, procura o sol que está aparecendo, sem pressa, com má vontade.

O médico, habituado a salvar vidas, tem ímpeto de matar. Acelera mais, joga o farol alto na cara do pilantra, buzina repetidas vezes. O mau-caráter faz que procura o acostamento, mas permanece na pista.

O carro vai atropelar o velhaco. Talvez até passe por cima dele, se continuar fingindo que está bêbado. Menos um para atrapalhar a vida de gente séria.

O esperto pressente o perigo, deve ter adivinhado que o automóvel não vai desviar-se dele, ouve de novo a buzina, o barulho do motor cada vez mais acelerado. De fato, o carro não desvia de seu intento. Obstinado, segue seu rumo. Vai tirar um fino.

O vivaldino é atingido de raspão, cambaleia agora de verdade, cai de lado. O cirurgião ouve o baque, sente o impacto do esbarro.

Vê pelo retrovisor interno a vítima caída à beira da estrada. O vidro de trás está embaçado, mas permite distinguir o vulto, imagem refratada. Gotas de água escorrem pelo vidro não como lágrimas, e, sim, como bagas de suor pelo esforço da corrida. Não há piedade, há cansaço.

Dr. Levi nota que o retrovisor externo está torto, danificado. Diminui a marcha, abaixa o vidro lateral, tateia o retrovisor do lado de fora. O espelho está partido, sujo de sangue. O profissional se sente vingado, satisfeito, vitorioso, como se estivesse saindo do bloco cirúrgico, após delicada operação, na qual fica provada a sua frieza, competência, habilidade. O dom de salvar o semelhante e de também salvar-se.

No dia seguinte, ao cair da tarde, chega o plantonista ao Hospital dos Operários. Toma conhecimento do acidente. O paciente – algumas fraturas, escoriações – está fora de perigo. Deu entrada ontem de manhã, mal havia chegado o substituto do Dr. Levi.

Na ficha, anotações sobre a vítima: funcionário da Associação. Seus pertences: recibo das mensalidades, uns trocados, óculos e bengala. Cego.

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Fonte: LOBATO, Manuel. "O homem da favela". LEITE, Alcione Ribeiro. O fino do Conto. Rio de Janeiro: Editora RHJ.


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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Feliz Natal!

Seja celebrando com a família, com os amigos ou sozinho. Seja ganhando ou dando presentes, comendo grandes banquetes ou uma refeição singela. Seja acreditando no significado pagão ou religioso atribuído ao Natal... não importa!

Um Feliz Natal a todos os leitores! Conto com vocês em 2015!


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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Como comportar-se no bonde

Gosto muito de ler e, com o passar dos anos, fui pegando cada vez mais gosto pela leitura, especialmente dos clássicos da literatura brasileira. Um desses escritores clássicos que aprendi a ler e a apreciar é Machado de Assis (1839-1908).


Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839, e faleceu em 29 de setembro de 1908, também no Rio de Janeiro. Fonte: Revista Luminus. <http://www.revistaluminus.com/site/2011/07/14/sport-club-literatura-chega-a-sua-segunda-edicao/>
Em um das aulas de um curso de pós-Graduação tomei contato com uma crônica de Machado que achei muito bem feita e com um toque de humor requintado digno de ser apreciado. Embora tenha sido escrita em 1883, é perfeitamente possível transportá-la para os dias atuais. Apreciem-na!


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Como comportar-se no bonde
(Machado de Assis)

Ocorreu-me compor uma certas regras para uso dos que frequentam bonds. O desenvolvimento que tem sido entre nós esse meio de locomoção, essencialmente democrático! exige que ele não seja deixado ao puro capricho dos passageiros. Não posso dar aqui mais do que alguns extratos do meu trabalho; basta saber que tem nada menos de setenta artigos. Vão apenas dez.

Art. I - Dos encatarroados

Os encatarroados podem entrar nos bonds com a condição de não tossirem mais de três vezes dentro de uma hora, e no caso de pigarro, quatro.

Quando a tosse for tão teimosa, que não permita esta limitação, os encatarroados têm dois alvitres: -ou irem a pé, que é bom exercício, ou meterem-se na cama. Também podem ir tossir para o diabo que os carregue.

Os encatarroados que estiverem nas extremidades dos bancos, devem escarrar para o lado da rua, em vez de o fazerem no próprio bond, salvo caso de aposta, preceito religioso ou maçônico, vocação, etc., etc.

Art. II - Da posição das pernas

As pernas devem trazer-se de modo que não constranjam os passageiros do mesmo banco. Não se proíbem formalmente as pernas abertas, mas com a condição de pagar os outros lugares, e fazê-los ocupar por meninas pobres ou viúvas desvalidas, mediante uma pequena gratificação.

Art. III - Da leitura dos jornais

Cada vez que um passageiro abrir a folha que estiver lendo, terá o cuidado de não roçar as ventas dos vizinhos, nem levar-lhes os chapéus. Também não é bonito encostá-los no passageiro da frente.

Art. IV - Dos quebra-queixos

É permitido o uso dos quebra-queixos em duas circunstâncias: a primeira quando não for ninguém no bond, e a segunda ao descer.

Art. V - Dos amoladores

Toda a pessoa que sentir necessidade de contar os seus negócios íntimos, sem interesse para ninguém, deve primeiro indagar do passageiro escolhido para uma tal confidência, se ele é assaz cristão e resignado. No caso afirmativo, perguntar-se-lhe-á se prefere a narração ou uma descarga de pontapés. Sendo provável que ele prefira os pontapés, a pessoa deve imediatamente pespegá-los. No caso, aliás extraordinário e quase absurdo, de que o passageiro prefira a narração, o proponente deve fazê-lo minuciosamente, carregando muito nas circunstâncias mais triviais, repelindo os ditos, pisando e repisando as coisas, de modo que o paciente jure aos seus deuses não cair em outra.

Art. VI - Dos perdigotos

Reserva-se o banco da frente para a emissão dos perdigotos, salvo nas ocasiões em que a chuva obriga a mudar a posição do banco. Também podem emitir-se na plataforma de trás, indo o passageiro ao pé do condutor, e a cara para a rua.

Art. VII - Das conversas

Quando duas pessoas, sentadas a distância; quiserem dizer alguma coisa em voz alta, terão cuidado de não gastar mais de quinze ou vinte palavras, e, em todo caso, sem alusões maliciosas, principalmente se houver senhoras.

Art. VIII - Das pessoas com morrinha

As pessoas com morrinha podem participar do bonds indiretamente: ficando na calçada, e vendo-os passar de um lado para outro. Será melhor que morem em rua por onde eles passem, porque então podem vê-lo mesmo da janela

Art. IX - Da passagem às senhoras

Quando alguma senhora entrar o passageiro da ponta deve levantar-se e dar passagem, não só porque é incômodo para ele ficar sentado, apertando as pernas como porque é uma grande má-criação.

(4 jul. 1883)
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Alguma semelhança com os dias atuais?

Fonte: <http://crocri.blogspot.com.br/2010/11/cronica.html> 

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terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Gelo pegando fogo

Alguns de vocês já devem ter ouvido falar nessa "substância-mágica-que-pega-fogo-mas-é-gelo-e-gelo-não-pega-fogo-porque-é-água".


Pois bem, acontece que essa substância não é gelo.


Isso mesmo! Bom, pelo menos não é SOMENTE gelo. Trata-se de uma substância chamada hidrato de metano. Ela é formada por moléculas de gás metano (o mesmo gás que compõe o combustível GNV) aprisionadas em cristais de gelo que funcionam como "gaiolas". A estrutura dessa substância pode ser representada da seguinte maneira:

Representação da estrutura do hidrato de metano. A molécula de metano fica aprisionada na estrutura do cristal de gelo, que atua como uma espécie de "gaiola". Fonte: O gelo que pega fogo. Mundo educação. http://www.mundoeducacao.com/quimica/o-gelo-que-pega-fogo.htm.

Mas de onde vem essa substância?

De forma simplificada, podemos entender o seu surgimento da seguinte maneira: a matéria orgânica entra em decomposição e gera, dentre algumas substâncias, gás metano. Esse gás, quando gerado no fundo dos oceanos, devido à baixa temperatura (próxima à temperatura de congelamento da água), pode ficar aprisionado nos cristais de gelo que se formam.

E por que ele pega fogo?

O gás metano, como já foi dito, é um combustível, e é inflamável, ou seja, pega fogo! Portanto, à medida que a temperatura aumenta, as moléculas desse gás são liberadas e entram em combustão. Como resultado, temos o efeito mostrado no vídeo.


Bonito de ver, não acham?


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